Um blogue sobre o quotidiano. E a política. E o quotidiano da política. E a política do quotidiano. E cinema. Muito cinema.

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domingo, 27 de fevereiro de 2011

And the Oscar goes to...

E porque somos fixes e não fazemos apostas, cá estão os nossos justos vencedores:

MELHOR FILME
Jonathan da Costa (JCC):
Black Swan
Frederico M. Teixeira (FMT):
The King's Speech

Melhor Realizador
JCC: Darren Aronofsky (Black Swan)
FMT: Darren Aronofsky (Black Swan)

Melhor Actriz Principal
JCC: Natalie Portman (Black Swan)
FMT: Natalie Portman (Black Swan)

Melhor Actor Principal
JCC: Colin Firth (The King's Speech)
FMT: Colin Firth (The King's Speech)

Melhor Actriz Secundária
JCC: Melissa Leo (The Fighter)
FMT: Hailee Steinfeld (True Grit)

Melhor Actor Secundário
JCC: Christian Bale (The Fighter)
FMT: Christian Bale (The Fighter)

Melhor Filme de Animação

Melhor Argumento Original

Melhor Argumento Adaptado

Melhor Fotografia


Melhor Edição

Melhor Banda Sonora

Melhor Canção Original
JCC: We Belong Together (Toy Story 3)
FMT: We Belong Together (Toy Story 3)

Óscares 2011: The King's Speech (Crítica)

A fábula do rei que vai gago
Classificação: 9/10

Estamos em 1925. E o príncipe e Duque de York, Albert (Colin Firth), em ocasião da tradicional Exposição do Império Britânico, tem que discursar perante um estádio de Wembley cheio de olhares atentos e corações expectantes. É certo que o aspirante a rei não ia nu, mas era gago. E os seus problemas de gaguez foram desde logo percebidos por todos. Se pretendesse ocupar o trono, Albert (ou Bertie para os amigos) precisava então de resolver imediatamente o seu problema de fala. Contudo, até então, a ajuda dos especialistas e os seus métodos em nada resultaram e Bertie continuou, gago. Assim, pressionado pela sua mulher, Elizabeth (Helena Bonham Carter), o príncipe acaba por aceitar o tratamento pouco ortodoxo de um terapeuta australiano, Lionel Logue (Geoffrey Rush). Está dado o mote para o desenrolar do filme e da intimista relação que o sustém.

Poderia dizer como disse relativamente a The Kids Are All Right ou The Fighter, que este filme também vive dos seus actores. E vive. Mas não só. Poderia dizer que estamos perante um filme com um enredo convencional mas cujas características feel good agradarão a generalidade dos espectadores. E agradam. Mas não só. Poderia dizer que (à semelhança de True Grit, por exemplo) o filme respeita os padrões de filme-feito-para-ser-candidato-a-Óscar com uma realização irrepreensível e uma fotografia belíssima. E respeita. Mas não só. Assim resultado de uma combinação discreta de factores, quase perfeito mas demasiado despretensioso, The King’s Speech conquistou a crítica e os espectadores. E além disso parte como principal favorito ao prémio máximo, o Óscar de melhor filme.

Mas nem tudo são rosas, neste mar que enjoa de tão britânico. Eis o problema de The King’s Speech – o facto de ser excessivamente medido e zeloso, o que deixa por vezes demasiado singelo e despido, próximo de um registo meramente documental. Meramente shakespeariano.Link
Regressando aos actores, é recomendável que Colin Firth vista o seu melhor fato e que já tenha o discurso bem estudado porque o Óscar é merecidamente seu. O actor fez um trabalho fantástico que mesmo aqueles que não gostarem do filme, não hesitarão em reconhecer. O veterano Geoffrey Rush teve também um desempenho notável que poderá lhe valer o Óscar de melhor actor secundário. O que até seria justo, não fosse a performance de Christian Bale em The Fighter. Helena Bonham Carter não decepciona na pele da esposa de Bertie, Elizabeth. Contudo, tem um papel demasiado discreto para que seja uma rival à altura de Steinfeld, Leo ou Adams para o Óscar de melhor actriz secundária.

The King’s Speech é um filme extraordinariamente bem feito, mas que não tão actual como The Social Network, não tão original como Inception, não tão memorável como True Grit ou não tão asfixiante como Black Swan está destinado ao esquecimento. A não ser que o alienígena dourado o salve. Mais logo veremos.

Óscares 2011: Inception (Crítica)

O subconsciente afinal é um espaço público

Classificação: 8,5/10

Quantas vezes, nomeadamente naquele período de tempo em que hesitamos entre o adormecer e o não adormecer e entre o querer fazê-lo e o não consegui-lo, nos agarramos a nossa consciência: nos interrogando acerca do nosso subconsciente: tentando entender a sua complexidade. Recriá-lo. E quantas vezes não o tememos. Talvez por não o conseguir entender Controlar. Ou reproduzir. Tantas vezes, não é?

E quantas vezes já não vimos a dimensão do subconsciente e a problemática sonho versus realidade explorada no grande ecrã? Tantas vezes, não é? Mas podem ter a certeza de que nunca da forma como Christopher Nolan com o seu original Inception o faz. O filme parte da premissa de que é possível entrar no subconsciente alheio e, para além de descobrir segredos do proprietário, implantar nele uma ideia. E como diz o personagem Cobb, interpretado por um DiCaprio menos rígido e forçado do que em Shutter Island, a ideia é o “parasita mais resistente”, no sentido em que uma “única ideia pode construir cidades, pode transformar o mundo e reescrever todas as regras”.

Neste sentido, num estilo à la heist film, Cobb (Leonardo DiCaprio), um ladrão especializado na extracção de ideias, é contratado por o businessman, Saito (Ken Watanabe), para uma tarefa ainda mais complexa do que roubar uma ideia: a de implantar uma. Cobb forma assim uma equipa de profissionais composta pela arquitecta Ariadne (Ellen Page), responsável pela criação dos espaços labirínticos do subconsciente, o químico Yusuf (Dileep Rao), responsável pelas substância que permite os personagens manter-se num estado de sono profundo e ainda, Eames (Tom Hardy), que tem a capacidade de assumir diferentes identidades e Arthur (Joseph Gordon-Levitt). A tarefa, no entanto, revelar-se-á ainda mais perigosa do que o esperado, principalmente para Cobb, com o surgimento de um fantasma do seu passado, a sua mulher, Mal, interpretada por uma genial Marion Cotillard.

Com sonhos dentro de sonhos e muita acção à mistura, Inception é um filme obviamente complexo mas nada que uma observação mais atenta aos detalhes e as falas não resolva. No entanto, Nolan parece por vezes se perder nos seus próprios labirintos, fazendo nos perder também e afastando o filme da perfeição que poderia ter atingido. Complexidade a mais estraga.

Os elementos técnicos do filme – desde os efeitos especiais à edição - são espectaculares e nos enchem os olhos e associados a um elenco à medida dos seus papéis (com excepção de DiCaprio que por vezes é pouco intenso) e à uma trilha sonora bem concebida e encaixada da autoria de Hans Zimmer, fazem de Inception um dos grandes filmes do ano e um dos mais originais da década. No entanto, ainda longe de outras obras de Nolan como Memento. Peca por ser demasiado ambicioso e complexo sem querer largar as rédeas do mainstream. Ainda assim um justo cavalo de corrida para os Óscares e capaz de arrancar bastantes apostas. Não a minha.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Óscares 2011: The Fighter (Crítica)

Um drama familiar entre ringues e sacos de areia

Classificação: 8/10

Depois de tantos boxing films do género boxeur-amador-com-pouca-sorte-na-vida-mas-com-ambições-de-uma-carreira-de-sucesso, pensei que já não existia no mundo espaço para mais raging bulls ou rockies, nomeadamente depois dos recentes sucessos de Million Dollar Baby e Cinderella Man. Afinal ainda há e The Fighter é a prova disso.

Baseado na história verídica do ex-boxeur e campeão mundial de boxe, Micky Ward (Mark Wahlberg), o filme de David O. Russell começa num registo diferente: como se fosse um documentário (registo por vezes utilizado ao longo do filme). Um documentário sobre o meio-irmão e treinador de Ward, Dicky Eklund (Christian Bale), um ex-pugilista, bastante popular no seu bairro, que viu a sua carreira comprometida devido ao vício do crack.

The Fighter vive assim da relação entre os dois personagens e dos seus dramas e conflitos pessoais, naquela que, convencional, podia ser mais uma narrativa sobre o boxe. Mas que, devido ao especial destaque dado a família problemática (e dramática) dos personagens, escapa ao triste destino de ir parar a caixa dos “mais-um-boxing-film-americano”.

Algo que também só é possível devido à excelente prestação do elenco do filme, que conta com nomes como Mark Wahlberg, Christian Bale, Amy Adams e Melissa Leo. À semelhança de The Kids Are All Right, é o elenco que faz realmente o filme funcionar e estabelecer-se como um dos melhores filmes dramáticos do ano.

Dos quatro actores, Wahlberg é aquele que menos se destaca. Por vezes, ficamos mesmo com a sensação de que o seu papel é mesmo secundário (embora isso deva-se também a uma falha ou estratégia inteligente - fica ao vosso critério - por parte de Russell de ao longo do filme evidenciar os restantes personagens, nomeadamente Dicky, em detrimento do de Wahlberg). Ainda assim, Wahlberg consegue uma das melhores prestações da sua carreira.

Melissa Leo e Amy Adams, que interpretam, respectivamente, a mãe de Ward e a namorada do mesmo estão brilhantes e justificam inteiramente a nomeação de ambas ao Óscar de melhor actriz secundária. No entanto, Leo acaba por roubar a cena interpretando uma “mulher de família” bastante teatral mas, simultaneamente, bastante humana.

Já Christian Bale, quase que irreconhecível na pele de um cadavérico Dicky, é quem mais se destaca no filme com uma interpretação memorável e merecedora do Óscar de melhor actor secundário.

Além de um elenco fantástico e carismático, The Fighter não tem muito mais a oferecer do que um enredo convencional mas bem concebido e uma realização bastante consistente mas longe do primor e genialidade de Aronofsky ou Fincher (ainda hei-de entender porque Russell foi nomeado para melhor realizador; Boyle, Nolan ou mesmo, Granik seriam nomeados bem mais justos).

É certo que The Fighter não é simplesmente mais-um-boxing-film-americano, mas está longe de ser um digno sucessor de Raging Bull, Rocky ou Million Dollar Baby. Mata a sede mas não nos deixa com vontade de beber mais água.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Óscares 2011: 127 Hours (Crítica)

Cinco dias de angústia em noventa minutos nada angustiantes

Classificação: 9/10

Após o aclamado Slumdog Millionaire, o realizador inglês Danny Boyle regressa às grandes salas com 127 Hours. O filme baseia-se no livro autobiográfico Between a Rock and a Hard Place do alpinista Aron Ralston, no qual Ralston fala acerca dos cinco dias que passou preso num canyon isolado no Utah, após a queda dum pedregulho em seu braço.

Apesar de não restarem desde logo dúvidas relativamente a sobrevivência de Ralston, nem mesmo quanto a forma que ele se libertará (quem já não ouviu falar daquela cena, que tantas sensibilidades feriu, em que o alpinista amputa o próprio braço), Danny Boyle ainda assim, através de uma narrativa original, consegue criar um filme cativante que prenderá a maioria dos espectadores ao ecrã; todavia, alguns espectadores menos pacientes poderão não ficar agradados com o facto de grande parte do filme, em jeito hitchcockiano, passar-se apenas num espaço (uma fenda!) e, ainda por cima, com um único actor.

No entanto, existem outros espaços no filme e esses diferentes ambientes possuem um importante valor metafórico no filme, no sentido em que são elementos caracterizadores do estado de espírito do personagem. Enquanto, por exemplo, no exterior da fenda, a paisagem tem tons quentes e é selvagem e desafiante, temos um Aron de alma livre e alegre; já no interior da fenda, progressivamente mais escura e claustrofóbica, temos um Aron cada vez mais angustiado, que se fecha em recordações mais ou menos presentes. Um sofrimento gradual até ao desespero que é interpretado de forma notável por James Franco.

Aliás, a actuação de Franco é essencial no filme, visto que a veracidade que atribui ao personagem e a empatia que impõe ao espectador são o principal factor para que durante cerca de uma hora nos concentremos apenas neste personagem, na sua angústia e nas suas memórias. Uma brilhante actuação por parte de Franco.

Também o recurso a diferentes mecanismos de vídeo (como por exemplo, as cenas "gravadas" por Aron com uma câmara digital comum) aliado à uma edição inteligente e muito bem conseguida e ainda à uma envolvente trilha sonora de A.R. Rahman, que mistura de forma genial sons tribais e electrónicos, dão realismo e lirismo ao filme, ajudando a atenuar um possível efeito tsé-tsé deste.

127 Hours é, sem dúvida, um dos filmes do ano, como comprovam as suas seis nomeações aos Óscares (embora, na minha opinião, estas devessem ser sete, com Danny Boyle a ser nomeado para melhor director). Uma história real e inspiradora de sobrevivência que Boyle transforma num filme inesquecível e absolutamente imperdível (e que nos recorda o quão essencial um telemóvel é na nossa vida).