Classificação: 8,5/10
A receita é simples: em primeiro lugar, escolham uma história que vos garanta desde já 500 milhões de potenciais espectadores; depois, é só arranjar um grande director, um grande argumentista e um elenco carismático. E já está. Tão simples como criar uma conta em qualquer rede social.
Não fosse o filme sobre a fundação do Facebook, teríamos apenas mais uma história de um nerd pouco sociável que constrói um negócio de milhões; desta vez não numa cave ou garagem mas num dormitório em Harvard. Desculpem-me os fãs de primeira fila. Contudo, a dupla Fincher/Sorkin faz deste filme algo acima disso: uma verdadeira crónica sobre os nossos tempos, sobre as nossas relações e mesmo sobre a própria natureza do ser humano. Fazem cinema de alto nível.
Fincher não nos desilude com mais uma realização impecável: o trabalho de edição e de câmara é soberbo. E mesmo as cenas menos cativantes, como a da competição de remo, tornam-se verdadeiras obras de arte animadas. Algo ao alcance de poucos realizadores. Já Sorkin cria um argumento bem-humorado mas simultaneamente ousado e inteligente, de diálogos surpreendentemente profundos e no qual as personagens evoluem de forma estruturada e sensata.
A história é desenvolvida através do recurso a flashbacks. Uma prática que, pessoalmente, não é das minhas favoritas, mas que Fincher e Sorkin utilizam com maestria e sem exageros, o que possibilita uma certa fluidez ao filme e cria uma aura enigmática a volta da história e dos personagens.
Quanto às actuações: Jesse Eisenberg, como o complexo e solitário Zuckerberg, tem uma performance competente que justifica inteiramente a sua nomeação ao Óscar e que atribui ao personagem uma veracidade notória. Já Andrew Garfield, que interpreta o contido Eduardo Saverin, nos surpreende com uma actuação de elevada qualidade e que justificaria igualmente uma nomeação aos Óscares, não fosse a forte concorrência deste ano. Dois actores claramente a seguir. Neste quesito, a minha nota negativa vai para Justin Timberlake que mais uma vez provou que não nasceu para isto.
Como produto final, The Social Network é claramente um bom filme, embora longe do nível de The King’s Speech e Black Swan. É um filme que nos faz pensar: que nos faz levantar questões em relação a um Zuckerberg que, embora bem concebido, nos é retratado de forma a que não o entendamos completamente. Quem é Zuckerberg? É aquilo que nós fazemos dele. Somos nós.
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