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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Óscares 2011: Black Swan (Crítica)

Um mergulho nas profundezas de um cisne

Classificação: 9,5/10

Depois de filmes como Requiem for a Dream e The Wrestler, ambos excelentes e cujas marcas são notáveis neste filme, Aronofsky mergulha mais uma vez nas profundezas do ser humano, explorando os seus limites, sonhos e desejos reprimidos. Black Swan é isso: uma viagem ao inconsciente de Nina (Natalie Portman), uma bailarina de uma companhia nova-iorquina talentosa e obcecada pelo seu trabalho e arte. Uma jornada freudiana que se inicia nos primeiros segundos de filme quando acompanhamos um pesadelo da personagem.

Como pano de fundo para o desenrolar desta viagem, temos o célebre bailado de Tchaikovsky, O Lago dos Cisnes. Quando o director da companhia, Thomas Leroy (Vincent Cassel) anuncia, não só que O Lago dos Cisnes abrirá a new season da companhia, mas também que a prima ballerina, Beth (Winona Ryder) será substituída, Nina, a bailarina mais dedicada da companhia, é a escolhida para ocupar o lugar.

E é a partir desse momento que Aronofsky põe o pé no acelerador e nos conduz num processo, labiríntico, de destruição do estado mental de Nina. Um trajecto no qual a realidade se mistura com a alucinação: da dúvida à obsessão; da obsessão à esquizofrenia. Um trajecto onde somos embalados por uma atmosfera sombria e uma fotografia fascinante.

Aliás tudo neste filme é fascínio e embalo: desde a fluidez e beleza dos movimentos da câmara, como se também bailassem, à fantástica trilha sonora de Clint Mansell, parceiro habitual de Aronofsky, que alia, com maestria, os temas de Tchaikovsky às suas composições originais.

No entanto, é o desempenho memorável de Natalie Portman o ponto mais alto deste filme. A actriz expõe de forma quase-perfeita a transformação de Nina Sayers: de sweet girl reprimida à uma mulher sensual e obcecada; do frágil cisne branco ao ousado cisne negro. Um desempenho para o qual o Óscar, que merece com total justiça, não passará mesmo de uma estatueta dourada.

Já quanto à Mila Kunis que interpreta a impetuosa Lily, rival de Nina, tem uma interpretação segura mas não tão surpreendentemente boa como alguns apregoam.

Black Swan assume-se como um filme absolutamente majestoso e, para mim, o justo vencedor do Óscar de melhor filme (sim, mesmo apesar de The King’s Speech e Inception). Destaco os últimos 30/40 minutos do filme quer pela interpretação de Portman, quer pela genialidade com que este é concebido: uma reviravolta apoteótica à la Fight Club, que embora menos surpreendente, é igualmente competente.

Um filme que possui todo o esplendor e genialidade do melhor da sétima arte e que nada deixa a dever a grandes clássicos do thriller psicológico. Uma pérola rara numa época de bijuterias rascas que é o cinema hollywoodiano. Bravo!

P.S.: Tentarei postar críticas sobre os dez filmes candidatos ao Óscar aqui no Apeadeiro. Esta foi a primeira. Espero estar a altura do desafio.

3 comentários:

Rafael Hitlodeu disse...

Olá Jonathan.
Ainda não vi o filme, apesar de, tanto nos média como junto de amigos que já o viram, a crítica ser muito boa. No entanto, após esta tua descrição, irei ao cinema o quanto antes.
Parabéns pelo excelente trabalho e pela maravilhosa forma como escreves.

Um abraço.

Maria Santos disse...

Concordo com a crítica. Mas considero tanto o The King's Speech como o Inception superiores ao Black Swan.

Parabéns pela crítica!

Continue.

Mafalda disse...

Tanto a tua crítica como o filme tão fantásticos mas acho que o "The King's Speech" merece levar o óscar para casa. Fico à espera do teu comentário sobre o mesmo :)
*Thumbs up*

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