Um blogue sobre o quotidiano. E a política. E o quotidiano da política. E a política do quotidiano. E cinema. Muito cinema.

Ads 468x60px

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Óscares 2011: Inception (Crítica)

O subconsciente afinal é um espaço público

Classificação: 8,5/10

Quantas vezes, nomeadamente naquele período de tempo em que hesitamos entre o adormecer e o não adormecer e entre o querer fazê-lo e o não consegui-lo, nos agarramos a nossa consciência: nos interrogando acerca do nosso subconsciente: tentando entender a sua complexidade. Recriá-lo. E quantas vezes não o tememos. Talvez por não o conseguir entender Controlar. Ou reproduzir. Tantas vezes, não é?

E quantas vezes já não vimos a dimensão do subconsciente e a problemática sonho versus realidade explorada no grande ecrã? Tantas vezes, não é? Mas podem ter a certeza de que nunca da forma como Christopher Nolan com o seu original Inception o faz. O filme parte da premissa de que é possível entrar no subconsciente alheio e, para além de descobrir segredos do proprietário, implantar nele uma ideia. E como diz o personagem Cobb, interpretado por um DiCaprio menos rígido e forçado do que em Shutter Island, a ideia é o “parasita mais resistente”, no sentido em que uma “única ideia pode construir cidades, pode transformar o mundo e reescrever todas as regras”.

Neste sentido, num estilo à la heist film, Cobb (Leonardo DiCaprio), um ladrão especializado na extracção de ideias, é contratado por o businessman, Saito (Ken Watanabe), para uma tarefa ainda mais complexa do que roubar uma ideia: a de implantar uma. Cobb forma assim uma equipa de profissionais composta pela arquitecta Ariadne (Ellen Page), responsável pela criação dos espaços labirínticos do subconsciente, o químico Yusuf (Dileep Rao), responsável pelas substância que permite os personagens manter-se num estado de sono profundo e ainda, Eames (Tom Hardy), que tem a capacidade de assumir diferentes identidades e Arthur (Joseph Gordon-Levitt). A tarefa, no entanto, revelar-se-á ainda mais perigosa do que o esperado, principalmente para Cobb, com o surgimento de um fantasma do seu passado, a sua mulher, Mal, interpretada por uma genial Marion Cotillard.

Com sonhos dentro de sonhos e muita acção à mistura, Inception é um filme obviamente complexo mas nada que uma observação mais atenta aos detalhes e as falas não resolva. No entanto, Nolan parece por vezes se perder nos seus próprios labirintos, fazendo nos perder também e afastando o filme da perfeição que poderia ter atingido. Complexidade a mais estraga.

Os elementos técnicos do filme – desde os efeitos especiais à edição - são espectaculares e nos enchem os olhos e associados a um elenco à medida dos seus papéis (com excepção de DiCaprio que por vezes é pouco intenso) e à uma trilha sonora bem concebida e encaixada da autoria de Hans Zimmer, fazem de Inception um dos grandes filmes do ano e um dos mais originais da década. No entanto, ainda longe de outras obras de Nolan como Memento. Peca por ser demasiado ambicioso e complexo sem querer largar as rédeas do mainstream. Ainda assim um justo cavalo de corrida para os Óscares e capaz de arrancar bastantes apostas. Não a minha.

0 comentários:

Enviar um comentário