Um blogue sobre o quotidiano. E a política. E o quotidiano da política. E a política do quotidiano. E cinema. Muito cinema.

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domingo, 27 de fevereiro de 2011

And the Oscar goes to...

E porque somos fixes e não fazemos apostas, cá estão os nossos justos vencedores:

MELHOR FILME
Jonathan da Costa (JCC):
Black Swan
Frederico M. Teixeira (FMT):
The King's Speech

Melhor Realizador
JCC: Darren Aronofsky (Black Swan)
FMT: Darren Aronofsky (Black Swan)

Melhor Actriz Principal
JCC: Natalie Portman (Black Swan)
FMT: Natalie Portman (Black Swan)

Melhor Actor Principal
JCC: Colin Firth (The King's Speech)
FMT: Colin Firth (The King's Speech)

Melhor Actriz Secundária
JCC: Melissa Leo (The Fighter)
FMT: Hailee Steinfeld (True Grit)

Melhor Actor Secundário
JCC: Christian Bale (The Fighter)
FMT: Christian Bale (The Fighter)

Melhor Filme de Animação

Melhor Argumento Original

Melhor Argumento Adaptado

Melhor Fotografia


Melhor Edição

Melhor Banda Sonora

Melhor Canção Original
JCC: We Belong Together (Toy Story 3)
FMT: We Belong Together (Toy Story 3)

Óscares 2011: The King's Speech (Crítica)

A fábula do rei que vai gago
Classificação: 9/10

Estamos em 1925. E o príncipe e Duque de York, Albert (Colin Firth), em ocasião da tradicional Exposição do Império Britânico, tem que discursar perante um estádio de Wembley cheio de olhares atentos e corações expectantes. É certo que o aspirante a rei não ia nu, mas era gago. E os seus problemas de gaguez foram desde logo percebidos por todos. Se pretendesse ocupar o trono, Albert (ou Bertie para os amigos) precisava então de resolver imediatamente o seu problema de fala. Contudo, até então, a ajuda dos especialistas e os seus métodos em nada resultaram e Bertie continuou, gago. Assim, pressionado pela sua mulher, Elizabeth (Helena Bonham Carter), o príncipe acaba por aceitar o tratamento pouco ortodoxo de um terapeuta australiano, Lionel Logue (Geoffrey Rush). Está dado o mote para o desenrolar do filme e da intimista relação que o sustém.

Poderia dizer como disse relativamente a The Kids Are All Right ou The Fighter, que este filme também vive dos seus actores. E vive. Mas não só. Poderia dizer que estamos perante um filme com um enredo convencional mas cujas características feel good agradarão a generalidade dos espectadores. E agradam. Mas não só. Poderia dizer que (à semelhança de True Grit, por exemplo) o filme respeita os padrões de filme-feito-para-ser-candidato-a-Óscar com uma realização irrepreensível e uma fotografia belíssima. E respeita. Mas não só. Assim resultado de uma combinação discreta de factores, quase perfeito mas demasiado despretensioso, The King’s Speech conquistou a crítica e os espectadores. E além disso parte como principal favorito ao prémio máximo, o Óscar de melhor filme.

Mas nem tudo são rosas, neste mar que enjoa de tão britânico. Eis o problema de The King’s Speech – o facto de ser excessivamente medido e zeloso, o que deixa por vezes demasiado singelo e despido, próximo de um registo meramente documental. Meramente shakespeariano.Link
Regressando aos actores, é recomendável que Colin Firth vista o seu melhor fato e que já tenha o discurso bem estudado porque o Óscar é merecidamente seu. O actor fez um trabalho fantástico que mesmo aqueles que não gostarem do filme, não hesitarão em reconhecer. O veterano Geoffrey Rush teve também um desempenho notável que poderá lhe valer o Óscar de melhor actor secundário. O que até seria justo, não fosse a performance de Christian Bale em The Fighter. Helena Bonham Carter não decepciona na pele da esposa de Bertie, Elizabeth. Contudo, tem um papel demasiado discreto para que seja uma rival à altura de Steinfeld, Leo ou Adams para o Óscar de melhor actriz secundária.

The King’s Speech é um filme extraordinariamente bem feito, mas que não tão actual como The Social Network, não tão original como Inception, não tão memorável como True Grit ou não tão asfixiante como Black Swan está destinado ao esquecimento. A não ser que o alienígena dourado o salve. Mais logo veremos.

Óscares 2011: Inception (Crítica)

O subconsciente afinal é um espaço público

Classificação: 8,5/10

Quantas vezes, nomeadamente naquele período de tempo em que hesitamos entre o adormecer e o não adormecer e entre o querer fazê-lo e o não consegui-lo, nos agarramos a nossa consciência: nos interrogando acerca do nosso subconsciente: tentando entender a sua complexidade. Recriá-lo. E quantas vezes não o tememos. Talvez por não o conseguir entender Controlar. Ou reproduzir. Tantas vezes, não é?

E quantas vezes já não vimos a dimensão do subconsciente e a problemática sonho versus realidade explorada no grande ecrã? Tantas vezes, não é? Mas podem ter a certeza de que nunca da forma como Christopher Nolan com o seu original Inception o faz. O filme parte da premissa de que é possível entrar no subconsciente alheio e, para além de descobrir segredos do proprietário, implantar nele uma ideia. E como diz o personagem Cobb, interpretado por um DiCaprio menos rígido e forçado do que em Shutter Island, a ideia é o “parasita mais resistente”, no sentido em que uma “única ideia pode construir cidades, pode transformar o mundo e reescrever todas as regras”.

Neste sentido, num estilo à la heist film, Cobb (Leonardo DiCaprio), um ladrão especializado na extracção de ideias, é contratado por o businessman, Saito (Ken Watanabe), para uma tarefa ainda mais complexa do que roubar uma ideia: a de implantar uma. Cobb forma assim uma equipa de profissionais composta pela arquitecta Ariadne (Ellen Page), responsável pela criação dos espaços labirínticos do subconsciente, o químico Yusuf (Dileep Rao), responsável pelas substância que permite os personagens manter-se num estado de sono profundo e ainda, Eames (Tom Hardy), que tem a capacidade de assumir diferentes identidades e Arthur (Joseph Gordon-Levitt). A tarefa, no entanto, revelar-se-á ainda mais perigosa do que o esperado, principalmente para Cobb, com o surgimento de um fantasma do seu passado, a sua mulher, Mal, interpretada por uma genial Marion Cotillard.

Com sonhos dentro de sonhos e muita acção à mistura, Inception é um filme obviamente complexo mas nada que uma observação mais atenta aos detalhes e as falas não resolva. No entanto, Nolan parece por vezes se perder nos seus próprios labirintos, fazendo nos perder também e afastando o filme da perfeição que poderia ter atingido. Complexidade a mais estraga.

Os elementos técnicos do filme – desde os efeitos especiais à edição - são espectaculares e nos enchem os olhos e associados a um elenco à medida dos seus papéis (com excepção de DiCaprio que por vezes é pouco intenso) e à uma trilha sonora bem concebida e encaixada da autoria de Hans Zimmer, fazem de Inception um dos grandes filmes do ano e um dos mais originais da década. No entanto, ainda longe de outras obras de Nolan como Memento. Peca por ser demasiado ambicioso e complexo sem querer largar as rédeas do mainstream. Ainda assim um justo cavalo de corrida para os Óscares e capaz de arrancar bastantes apostas. Não a minha.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Óscares 2011: The Fighter (Crítica)

Um drama familiar entre ringues e sacos de areia

Classificação: 8/10

Depois de tantos boxing films do género boxeur-amador-com-pouca-sorte-na-vida-mas-com-ambições-de-uma-carreira-de-sucesso, pensei que já não existia no mundo espaço para mais raging bulls ou rockies, nomeadamente depois dos recentes sucessos de Million Dollar Baby e Cinderella Man. Afinal ainda há e The Fighter é a prova disso.

Baseado na história verídica do ex-boxeur e campeão mundial de boxe, Micky Ward (Mark Wahlberg), o filme de David O. Russell começa num registo diferente: como se fosse um documentário (registo por vezes utilizado ao longo do filme). Um documentário sobre o meio-irmão e treinador de Ward, Dicky Eklund (Christian Bale), um ex-pugilista, bastante popular no seu bairro, que viu a sua carreira comprometida devido ao vício do crack.

The Fighter vive assim da relação entre os dois personagens e dos seus dramas e conflitos pessoais, naquela que, convencional, podia ser mais uma narrativa sobre o boxe. Mas que, devido ao especial destaque dado a família problemática (e dramática) dos personagens, escapa ao triste destino de ir parar a caixa dos “mais-um-boxing-film-americano”.

Algo que também só é possível devido à excelente prestação do elenco do filme, que conta com nomes como Mark Wahlberg, Christian Bale, Amy Adams e Melissa Leo. À semelhança de The Kids Are All Right, é o elenco que faz realmente o filme funcionar e estabelecer-se como um dos melhores filmes dramáticos do ano.

Dos quatro actores, Wahlberg é aquele que menos se destaca. Por vezes, ficamos mesmo com a sensação de que o seu papel é mesmo secundário (embora isso deva-se também a uma falha ou estratégia inteligente - fica ao vosso critério - por parte de Russell de ao longo do filme evidenciar os restantes personagens, nomeadamente Dicky, em detrimento do de Wahlberg). Ainda assim, Wahlberg consegue uma das melhores prestações da sua carreira.

Melissa Leo e Amy Adams, que interpretam, respectivamente, a mãe de Ward e a namorada do mesmo estão brilhantes e justificam inteiramente a nomeação de ambas ao Óscar de melhor actriz secundária. No entanto, Leo acaba por roubar a cena interpretando uma “mulher de família” bastante teatral mas, simultaneamente, bastante humana.

Já Christian Bale, quase que irreconhecível na pele de um cadavérico Dicky, é quem mais se destaca no filme com uma interpretação memorável e merecedora do Óscar de melhor actor secundário.

Além de um elenco fantástico e carismático, The Fighter não tem muito mais a oferecer do que um enredo convencional mas bem concebido e uma realização bastante consistente mas longe do primor e genialidade de Aronofsky ou Fincher (ainda hei-de entender porque Russell foi nomeado para melhor realizador; Boyle, Nolan ou mesmo, Granik seriam nomeados bem mais justos).

É certo que The Fighter não é simplesmente mais-um-boxing-film-americano, mas está longe de ser um digno sucessor de Raging Bull, Rocky ou Million Dollar Baby. Mata a sede mas não nos deixa com vontade de beber mais água.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Óscares 2011: 127 Hours (Crítica)

Cinco dias de angústia em noventa minutos nada angustiantes

Classificação: 9/10

Após o aclamado Slumdog Millionaire, o realizador inglês Danny Boyle regressa às grandes salas com 127 Hours. O filme baseia-se no livro autobiográfico Between a Rock and a Hard Place do alpinista Aron Ralston, no qual Ralston fala acerca dos cinco dias que passou preso num canyon isolado no Utah, após a queda dum pedregulho em seu braço.

Apesar de não restarem desde logo dúvidas relativamente a sobrevivência de Ralston, nem mesmo quanto a forma que ele se libertará (quem já não ouviu falar daquela cena, que tantas sensibilidades feriu, em que o alpinista amputa o próprio braço), Danny Boyle ainda assim, através de uma narrativa original, consegue criar um filme cativante que prenderá a maioria dos espectadores ao ecrã; todavia, alguns espectadores menos pacientes poderão não ficar agradados com o facto de grande parte do filme, em jeito hitchcockiano, passar-se apenas num espaço (uma fenda!) e, ainda por cima, com um único actor.

No entanto, existem outros espaços no filme e esses diferentes ambientes possuem um importante valor metafórico no filme, no sentido em que são elementos caracterizadores do estado de espírito do personagem. Enquanto, por exemplo, no exterior da fenda, a paisagem tem tons quentes e é selvagem e desafiante, temos um Aron de alma livre e alegre; já no interior da fenda, progressivamente mais escura e claustrofóbica, temos um Aron cada vez mais angustiado, que se fecha em recordações mais ou menos presentes. Um sofrimento gradual até ao desespero que é interpretado de forma notável por James Franco.

Aliás, a actuação de Franco é essencial no filme, visto que a veracidade que atribui ao personagem e a empatia que impõe ao espectador são o principal factor para que durante cerca de uma hora nos concentremos apenas neste personagem, na sua angústia e nas suas memórias. Uma brilhante actuação por parte de Franco.

Também o recurso a diferentes mecanismos de vídeo (como por exemplo, as cenas "gravadas" por Aron com uma câmara digital comum) aliado à uma edição inteligente e muito bem conseguida e ainda à uma envolvente trilha sonora de A.R. Rahman, que mistura de forma genial sons tribais e electrónicos, dão realismo e lirismo ao filme, ajudando a atenuar um possível efeito tsé-tsé deste.

127 Hours é, sem dúvida, um dos filmes do ano, como comprovam as suas seis nomeações aos Óscares (embora, na minha opinião, estas devessem ser sete, com Danny Boyle a ser nomeado para melhor director). Uma história real e inspiradora de sobrevivência que Boyle transforma num filme inesquecível e absolutamente imperdível (e que nos recorda o quão essencial um telemóvel é na nossa vida).

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Óscares 2011: Toy Story 3 (Crítica)

Um final em grande para a trilogia de uma geração

Classificação: 10/10

Sabem quando sentimos que voltamos novamente a ser crianças e que afinal o tempo não passou e nós continuamos as mesmas criaturas desdentadas e contentes? Não? Então é porque ainda não viram o Toy Story 3.

Essa é a magia de Toy Story 3, que é muito mais do que um filme tecnicamente impecável à boa moda da Pixar. É muito mais do que uma bem-contada e moralmente rica história à tradicional moda da Disney. É uma espécie de terapia de regressão: que nos transporta de volta a nossa infância, nomeadamente, se tal como eu, o espectador tiver crescido a acompanhar as aventuras de Woody, Buzz, do casal Cabeça-de-Batata e de toda a malta do quarto de Andy. Que, tal como eu, tenham na história destes brinquedos também uma parte da sua própria história.

É um filme feito para juntar no mesmo sofá, crianças, jovens e adultos. Os primeiros que, com certeza, não ficarão indiferentes a história divertida e cheia de acção do filme. Os mais jovens se identificarão com Andy e com o seu dilema de quem inicia a vida adulta. Já para os adultos, fica reservada a nostalgia dos “velhos tempos”. Mas, para todos, a oportunidade de assistir um bom filme que emocionará, arrancará gargalhadas e despertará recordações.

Toy Story 3 não decepcionará em nada os fãs da série, visto que consegue a proeza de superar os filmes anteriores, fechando com chave de ouro a trilogia. (Dando uma lição a um certo ogre verde.) O filme proporcionará ainda, através de momentos irónicos (private jokes para fãs), recordar alguns elementos-chave dos filmes anteriores como, por exemplo, “o Garra” da Pizza Planet ou o facto de Buzz julgar ser um verdadeiro guerreiro espacial.

Escusado será dizer que Toy Story 3 é o justo vencedor do Óscar para melhor filme de animação e justo nomeado ao Óscar de melhor filme (sabemos que este desenhos animados não ganham!).

É um filme para guardar no baú, mas cá em cima, para que o possamos retirar quando quisermos. Até porque a infância passa, mas a criança nunca morre. Assim, Toy Story 3 não é um adeus, é um “até sempre” ou melhor, é um “até o infinito e mais além”.

A raiva pega-se: Líbia (e Djibouti!)

(olha ele na UL!)

1. Imunes às injecções (entenda-se a duplicação de salários aos funcionários públicos, por exemplo) e as terapias de choque que Kadhafi aplicou no sentido de controlar a raiva que corre nas principais cidades líbias, as reivindicações e manifestações populares continuam de boa saúde. No entanto, espera-se que a temperatura aqueça quando a febre de indignação chegar ao coração do país, Tripoli. E, ao confirmar-se esse facto, não só Kadhafi estará em maus lençóis mas também o povo líbio visto estarmos perante um regime bastante severo, que não hesitará em servir-se da sua força bruta para controlar a fúria popular.
No entanto, aproveito a onda bwin que por aí anda para dizer que a minha aposta para “próximo Egipto” vai para a Líbia. Razões? A proximidade geográfica com a Tunísia e Egipto; um regime decadente há quarenta e dois anos no poder. (Cavaco, ainda és uma criança!); o facto de o povo não estar nada agradado com a possibilidade de um kadhafinho suceder ao pai e o elevado índice de desemprego numa população bem qualificada, se tivermos em conta o padrão africano. (Ainda sou daqueles que acredita que revolução é coisa de gente instruída, desculpem.) Já para não falar de que os Estados Unidos não se importariam em nada com a queda de Kadhafi.
No entanto, Kadhafi tem duas coisas a seu favor e que podem comprometer um desfecho feliz para a Líbia: em primeiro lugar, poderá agradar a sua população com mais umas medidinhas simpáticas patrocinadas pelo tesouro negro do país e, em segundo lugar, o facto do líder político ainda gozar do apoio de uma camada importante da população e do exército.
Assim aposto na Líbia mas sem apostar as fichas todas, não vai isto acabar em mais uma cirurgia plástica.

2. E hoje o pequeno Djibouti juntou-se a corrida com uma manifestação histórica para o país que contou com 30 mil dos seus 600 mil habitantes (aqui). Será que a tartaruga ganhará a lebre?

(Ou será que a onda de fúria já começa a dar sinais de acalmia? Esperemos que não, pela saúde de todos.)

Paciência precisa-se…

(E por hoje ser sexta-feira, perdoem-me a falta de paciência)

Chamem-me parvo. Mas estou farto da música dos Deolinda (sim, aquela-que-todos-nós-sabemos). Para começar, a música soa a uma mistura de canção de embalar com o Filho do Recluso. É certo que reparto da indignação e subscrevo a letra que é actual e pertinente. No entanto, haja pachorra (qual música do Pingo Doce) para ter que ouvi-la em tudo que é telejornal e ter que aturar as mais diversas divagações à volta da mesma. Mas, tudo bem, o que interessa é termos trilha sonora para os nossos protestos de sofá e as nossas indignações da hora do jantar, não é? Até porque os idosos encontrados mortos em casa já não vão surgindo com tanta frequência e o Egipto já passou a história e nós precisamos de algo que nos vá entretendo…

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Óscares 2011: The Kids Are All Right (Crítica)

O retrato all right de uma família à moda da Califórnia

Classificação: 8/10

Nic (Annette Bening) é médica e uma mulher séria e controladora. Vive em união de facto com Jules (Julienne Moore) uma mulher descontraída e de alma artística que decide começar um negócio como paisagista. O casal tem dois filhos: Joni (Mia Wasikowska), a menina inteligente dos “excelentes” e “muito bons” que pretende ser médica como a mãe biológica, Nic; e Laser (Josh Hutcherson), filho biológico de Jules, é o protótipo do bom-miúdo-desportista-americano. Assim, estaria completa a equação de família norte-americana que o grande ecrã nos tem habituado.

No entanto, quando Joni completa 18 anos, Laser pede-lhe que o ajude a encontrar o pai biológico de ambos. Neste âmbito, surge o elemento que falta nesta equação familiar: o bon vivant, Paul (Mark Ruffalo). A entrada de Paul no quotidiano desta família afectará a todos e obrigará a um repensar das relações entre eles.

Está assim dado o mote para a trama de The Kids Are All Right. O enredo do filme de Lisa Cholodenko pode não ser surpreendente, mas é muito bem estruturado, equilibrando a comédia com o drama (e vice-versa) sem que se perca demasiadamente em nenhum dos géneros. O que permite bons diálogos e uma evolução inteligente por parte dos personagens.

Apesar disso e de ser um filme bem dirigido, seria um filme que passaria, de certa forma, despercebido, não fosse ter um elenco incrível que dá vida ao filme e o transporta para outro nível, proporcionando-nos ainda assistir uma entrega ao personagem e uma cumplicidade entre actores pouco vista.

Bening é de facto quem mais se destaca. A actriz tem uma performance fantástica que merecia ser agraciada com o Óscar de melhor actriz, não fosse termos uma Portman na sua melhor forma este ano. Moore também tem um desempenho notável, aliás, como sempre. Já Ruffalo, de quem nunca fui muito fã, acaba por surpreender com uma performance acima da média. Mas se merece a nomeação obtida ao Óscar? Já não tenho tanta certeza.

Quanto aos miúdos: sim, portam-se bem. No entanto, continuo com as minhas reservas em relação a Wasikowska. É permanentemente estranha e distante. (Talvez se arranjassem um pouco de sal para a miúda as coisas melhorassem.)

Destaco ainda a forma como a problemática da homossexualidade de Nic e Jules foi pouco (ou bem) explorada. Aliás, o facto acaba mesmo por ter pouca importância no filme: o que é louvável.

Descontraído. Real. Divertido. E envolvente. The Kids Are All Right está longe de ser o novo Little Miss Sunshine, como alguns apregoam, mas ainda assim é um filme bastante seguro que nos deixa com um bom sorriso de satisfação no rosto.

Mamma Mia


Longe vão os tempos em que as exportações Marroquinas para Itália se limitavam a ser produtos têxteis, equipamentos petrolíferos, rochas de fosfato, entre outros produtos. Hoje, todos nós sabemos que a exportação marroquina mais importante em Itália é uma Ruby. Uma Ruby quente e controversa, que parte corações, uma arma letal capaz de derrubar governos.

O último coração em que esta Ruby tocou foi no de Silvio Berlusconi. Alegadamente, Il Cavaliere montou o seu cavalo, “sacou” da sua espada, frente a uma Ruby que é menor de idade. Isto causou uma onda de choque em Itália, quer na política, quer na sociedade.

Dezenas de milhares de italianos saem às ruas exigindo a demissão do Primeiro-Ministro, e a oposição faz o mesmo no Parlamento. Como é que Berlusconi responde? Quanto à oposição, em 2.11.10 (já quanto à presença de uma tal Ruby numa das suas festas), responde dizendo que “é melhor gostar de mulheres bonitas do que ser gay”. Ao povo, pede um voto de confiança.

A verdade é que Berlusconi vê-se confrontado com a sua versão de “arma de destruição maciça” e vai ser levado “à barra” em Abril no caso RubyGate. Este caso sobe para 3 o número de processos judiciais em que Berlusconi vai estar envolvido e que serão retomados entre o fim de Fevereiro e o inicio de Março.

Il Cavaliere vai ter muito que cavalgar nos tribunais italianos este ano, porém, nada de isto é novo para o Primeiro-Ministro italiano. Ele já se tornou uma presença mais ou menos regular nos tribunais, quase rivalizando com a épica personagem dos Malucos do Riso, Lelo que foi durante muitos anos representado por Camacho Costa, porém, não acredito que a maioria dos italianos se consiga rir com este réu.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Óscares 2011: True Grit (Crítica)

O Western segundo os Coen

Classificação: 9/10

Pensavam que o bom e velho western tinha morrido? Desenganem-se. Os manos Coen (Fargo e No Country For Old Men) recuperam-no das prateleiras onde o enterramos. True Grit, um remake do clássico homónimo de 1969, é o filme que nos vem provar que o western ainda não é um género obsoleto.

Assim, a história de Mattie Ross (Hailee Steinfeld), jovem de 14 anos cujo pai é assassinado que parte em busca do assassino de seu pai, juntamente com um veterano da Guerra Civil Americana, Rooster Cogburn (Jeff Bridges) e com o lawman, LaBoeuf (Matt Damon), regressa ao grande ecrã. Desta feita, pela mão dos aclamados irmãos Coen.

Como se não fosse árduo o suficiente fazer um remake de um clássico do cinema, Ethan e Joel Coen conseguem ainda realizar um filme excelente que em muita coisa supera o anterior, com a mesma qualidade que nos vêm habituado nos últimos anos (embora não supere Fargo ou No Country For Old Men, sejamos justos).

Com uma fotografia de cenários pitorescos, composições perfeitas e com uma inteligente utilização da cor, os Coen demonstram que continuam em grande e confirmam porque são dos realizadores mais geniais da sua geração.

Como seria de esperar, o argumento é bastante semelhante ao do True Grit de Hathaway. Mantendo assim a mesma complexidade e eloquência nos diálogos e uma certa congruência em quase todos os acontecimentos retratados. Uma excepção é o facto de, contrariamente ao seu antecessor, o filme começar (e terminar) com a narração de uma Mattie Ross mais velha. Uma boa opção por parte dos Coen, na minha opinião, embora desvende desde logo que a menina sobreviverá a sua jornada.

Notas positivas ainda para a trilha sonora e, principalmente, para o elenco, no qual destaca-se o desempenho marcante e surpreendente de Hailee Steinfeld. A jovem actriz rouba a cena e demonstra possuir imenso talento e uma segurança rara em actrizes da sua idade. Superando mesmo a interpretação de Kim Darby na versão de 1969.

Já Jeff Bridges, que interpreta o veterano Rooster Cogburn, não surpreende nem decepciona, numa actuação competente mas que não sei até que ponto justifica uma nomeação ao Óscar de melhor actor. Não suplantando assim a interpretação do célebre John Wayne (na versão de 1969). Feito que até lhe era possível.

Matt Damon, como sempre, cumpre o seu papel com bastante mérito. O mesmo podemos dizer em relação a Josh Brolin, com o seu discreto Tom Chaney.

True Grit é um bom filme e que segue às riscas o padrão de filme-para-ser-candidato-a-Óscar (o que justifica as suas dez nomeações ao mesmo). Mas que não considero que tenha o necessário para levar o cobiçado prémio para casa. (Por vezes é demasiado despido e lento.) Como sabemos: nem sempre seguir o livro de receitas nos garante o bolo perfeito.

Óscares 2011: The Social Network (Crítica)

Como fazer um filme notável com base numa história desinteressante?

Classificação: 8,5/10

A receita é simples: em primeiro lugar, escolham uma história que vos garanta desde já 500 milhões de potenciais espectadores; depois, é só arranjar um grande director, um grande argumentista e um elenco carismático. E já está. Tão simples como criar uma conta em qualquer rede social.

Não fosse o filme sobre a fundação do Facebook, teríamos apenas mais uma história de um nerd pouco sociável que constrói um negócio de milhões; desta vez não numa cave ou garagem mas num dormitório em Harvard. Desculpem-me os fãs de primeira fila. Contudo, a dupla Fincher/Sorkin faz deste filme algo acima disso: uma verdadeira crónica sobre os nossos tempos, sobre as nossas relações e mesmo sobre a própria natureza do ser humano. Fazem cinema de alto nível.

Fincher não nos desilude com mais uma realização impecável: o trabalho de edição e de câmara é soberbo. E mesmo as cenas menos cativantes, como a da competição de remo, tornam-se verdadeiras obras de arte animadas. Algo ao alcance de poucos realizadores. Já Sorkin cria um argumento bem-humorado mas simultaneamente ousado e inteligente, de diálogos surpreendentemente profundos e no qual as personagens evoluem de forma estruturada e sensata.

A história é desenvolvida através do recurso a flashbacks. Uma prática que, pessoalmente, não é das minhas favoritas, mas que Fincher e Sorkin utilizam com maestria e sem exageros, o que possibilita uma certa fluidez ao filme e cria uma aura enigmática a volta da história e dos personagens.

Quanto às actuações: Jesse Eisenberg, como o complexo e solitário Zuckerberg, tem uma performance competente que justifica inteiramente a sua nomeação ao Óscar e que atribui ao personagem uma veracidade notória. Já Andrew Garfield, que interpreta o contido Eduardo Saverin, nos surpreende com uma actuação de elevada qualidade e que justificaria igualmente uma nomeação aos Óscares, não fosse a forte concorrência deste ano. Dois actores claramente a seguir. Neste quesito, a minha nota negativa vai para Justin Timberlake que mais uma vez provou que não nasceu para isto.

Como produto final, The Social Network é claramente um bom filme, embora longe do nível de The King’s Speech e Black Swan. É um filme que nos faz pensar: que nos faz levantar questões em relação a um Zuckerberg que, embora bem concebido, nos é retratado de forma a que não o entendamos completamente. Quem é Zuckerberg? É aquilo que nós fazemos dele. Somos nós.