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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Óscares 2011: 127 Hours (Crítica)

Cinco dias de angústia em noventa minutos nada angustiantes

Classificação: 9/10

Após o aclamado Slumdog Millionaire, o realizador inglês Danny Boyle regressa às grandes salas com 127 Hours. O filme baseia-se no livro autobiográfico Between a Rock and a Hard Place do alpinista Aron Ralston, no qual Ralston fala acerca dos cinco dias que passou preso num canyon isolado no Utah, após a queda dum pedregulho em seu braço.

Apesar de não restarem desde logo dúvidas relativamente a sobrevivência de Ralston, nem mesmo quanto a forma que ele se libertará (quem já não ouviu falar daquela cena, que tantas sensibilidades feriu, em que o alpinista amputa o próprio braço), Danny Boyle ainda assim, através de uma narrativa original, consegue criar um filme cativante que prenderá a maioria dos espectadores ao ecrã; todavia, alguns espectadores menos pacientes poderão não ficar agradados com o facto de grande parte do filme, em jeito hitchcockiano, passar-se apenas num espaço (uma fenda!) e, ainda por cima, com um único actor.

No entanto, existem outros espaços no filme e esses diferentes ambientes possuem um importante valor metafórico no filme, no sentido em que são elementos caracterizadores do estado de espírito do personagem. Enquanto, por exemplo, no exterior da fenda, a paisagem tem tons quentes e é selvagem e desafiante, temos um Aron de alma livre e alegre; já no interior da fenda, progressivamente mais escura e claustrofóbica, temos um Aron cada vez mais angustiado, que se fecha em recordações mais ou menos presentes. Um sofrimento gradual até ao desespero que é interpretado de forma notável por James Franco.

Aliás, a actuação de Franco é essencial no filme, visto que a veracidade que atribui ao personagem e a empatia que impõe ao espectador são o principal factor para que durante cerca de uma hora nos concentremos apenas neste personagem, na sua angústia e nas suas memórias. Uma brilhante actuação por parte de Franco.

Também o recurso a diferentes mecanismos de vídeo (como por exemplo, as cenas "gravadas" por Aron com uma câmara digital comum) aliado à uma edição inteligente e muito bem conseguida e ainda à uma envolvente trilha sonora de A.R. Rahman, que mistura de forma genial sons tribais e electrónicos, dão realismo e lirismo ao filme, ajudando a atenuar um possível efeito tsé-tsé deste.

127 Hours é, sem dúvida, um dos filmes do ano, como comprovam as suas seis nomeações aos Óscares (embora, na minha opinião, estas devessem ser sete, com Danny Boyle a ser nomeado para melhor director). Uma história real e inspiradora de sobrevivência que Boyle transforma num filme inesquecível e absolutamente imperdível (e que nos recorda o quão essencial um telemóvel é na nossa vida).

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